sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Resenha - Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago)




Esse é um dos dos livros que eu creio que possam ser chamados de “Obra Prima da Literatura”. O romance Ensaio Sobre a Cegueira do escritor português José Saramago (De quem também sou enorme fã) foi publicado em 1995 e traduzido para várias línguas.
O próprio Saramago define seu livro da seguinte forma:

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

Eu, particularmente, concordo com essa definição. Ensaio é um livro realmente “doloroso” pra quem lê, pois mostra o lado mais sombrio e “delicado” da raça humana. Mostra de forma crua e direta como algumas pessoas se portam quando lhe falta um dos seus sentidos vitais, a visão. Ou mesmo como se portam atualmente, a lei do mais forte e a cegueira com a qual estamos acostumados a viver, que nos mantêm acomodados e com a falsa impressão de “bonança”.  

“O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las”. (Página 276)

Uma cegueira, branca, como um mar de leite e jamais conhecida, alastra-se rapidamente em forma de epidemia. O governo decide agir, e as pessoas infectadas são colocadas em uma quarentena com recursos limitados que irá desvendar aos poucos as características primitivas do ser humano. A força da epidemia não diminui com as atitudes tomadas pelo governo e depressa o mundo se torna cego, onde apenas uma mulher, misteriosa e secretamente manterá a sua visão.
Ao conseguir finalmente sair do antigo hospício onde o governo os pusera em quarentena, a mulher que vê depara-se com a ausência de guarda: “a cidade estava toda infectada”; cadáveres, lixo, detritos, todo o tipo de sujidade e imundice se instalara pela cidade. Os cegos passaram a seguir os seus instintos animais, e sobreviviam como nômades, instalando-se em lojas ou casas desconhecidas. A obra acaba quando subitamente, exatamente pela ordem de contágio, o mundo cego dá lugar ao mundo imundo e bárbaro. No entanto, as memórias e rastros não se desvanecem.

Na quarentena em que eles são colocados, o desespero pela falta de visão, pelo abandono e descaso a que são sujeitados apareceram de diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes.

O filme, dirigido por Fernando Meirelles, respeitou bem as passagens do livro, acrescentando apenas poucos detalhes. Foi um bom filme, um dos que mais manteve a obra original em si e passou exatamente o que escrevera no livro.

A maneira como Saramago escreve, com poucos pontos, muitas vírgulas e discursos correntes, faz com que a história passe na mente do leitor numa incrível velocidade. No princípio, ela é um pouco complicada para alguns, e exige muita concentração na leitura.
Definitivamente, esse não é um livro para se ler se não tiver paciência. Ele não dá explicação sobre a cegueira (por que começa e nem por que termina). A cegueira é apenas um pano de fundo por trás do que realmente ele quis passar quando a escreveu.
Nesta obra, Saramago nos faz refletir sobre a reação do ser humano num momento de dificuldade, de impotência. É um livro duro e até mesmo assustador. Será que somos realmente assim?

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